sexta-feira, 25 de maio de 2018

Da Greve e da Petrobrás:

São, certamente, muitos os interesses e as motivações que orientam a paralisação dos caminhoneiros e dificilmente conheceremos todos. Mas no centro da análise está a nova concepção de política de preços da Petrobras. Não era mesmo possível seguir com a forma espúria, irresponsável, irregular, corrupta que vinha conduzindo nossa empresa máxima, aquela que se fortificou no grito simbólico de independência, com “o petróleo é nosso!”.

Não podia continuar nas mãos da baixa política, da bandidagem que açoitou o nosso país em tempos recentes e corroeu nossos valores, princípios, crenças e esperanças.
Mas, como eu disse há poucos dias, nem tanto nem tão quanto. A Petrobrás foi assumida pelo governo (ou desgoverno) atual como uma grande empresa capitalista, recebeu “um banho de capitalismo” para se recuperar da delicada situação em que o passado recente a colocou. Não tenho dúvidas que pode ter sido necessário, a curto prazo, esse mergulho no capitalismo sangue puro. Mas não aceito que seja essa a natureza seminal e substantiva da empresa. Antes de mais nada, a Petrobras é instrumento de governo para fertilizar a economia e gerar efeitos construtivos para o parque industrial do país, pela dimensão e repercussão de sua cadeia produtiva. A Petrobras não está estabelecida para simplesmente gerar lucro para seus acionistas, mesmo estando entre eles o próprio estado. Ela tem de ser criativa, investigativa, produtiva e sustentável. Ser lucrativa não faz parte desse cardápio porque seu eventual rendimento significaria perda de oportunidade de investimentos. A Petrobras está feita, por direito e conquista da sociedade brasileira, para ser instrumento de crescimento e desenvolvimento nacional. Claro que nas margens e só nas margens ela poderia se abrir à participação compartida público-privada, não apenas para captação de recursos, mas também como flexibilização e arejamento empresarial. O preço do combustível é, por exemplo, um instrumento de política de governo, não apenas elemento de mercado. As eventuais perdas podem ser compensadas em outros elementos de custo da empresa. O mercado é sempre um fator referencial, mas não decisório. A empresa não pode ser administrada, como parece estar sendo, como um objeto estranho dentro do país, que poderia até mudar sua sede para outro país se isso fora indicado pelo mercado. Às favas com essa forma disfarçada de apropriação.

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