domingo, 13 de setembro de 2015

Panorama Político Brasileiro



Instalada a crise, tudo é permitido. O rebaixamento do país por uma agência de classificação de risco tem muitas explicações e esconde interesses subversivos do sistema financeiro internacional. O trabalho dessas agências é criticável e suspeito, atende a interesses patronais. Em vez de ajudar o país a sair da crise, pune, eleva os juros que serve para aumentar a renda do sistema financeiro. Tudo muito redondo e cruel.
Razões oficiais para isso, se se procura acha. A administração do país foi uma catástrofe, foi desperdiçada uma oportunidade histórica de um governo popular, com um líder carismático que tinha um discurso contestatório do status quo. 

Entretanto, do ponto de vista prático e ideológico o PT apenas “surfou” na estrada aberta pelo PSDB. Não inovou em nada e não produziu nenhuma transformação estrutural.
Vejamos: a incorporação de milhões da pobreza ao mercado é uma estratégia capitalista, fartamente comemorada pela burguesia nacional. Essa virada foi preparada pelo PSDB quando desconectou o salário mínimo da pensão do aposentado, possibilitando aumentar o primeiro sem carregar junto o segundo. O PSDB abriu a porta e não teve tempo de usufruir, mas faria o que o PT fez, aumentar os ganhos do salário mínimo, festejado pelo comércio e bancos. A liberação do crédito foi apenas a extensão do instrumento principal.

A exploração eleitoreira do bolsa-família foi uma distorção de outra iniciativa do PSDB, as bolsas assistenciais,  (sobretudo o bolsa-escola) criadas como instrumentos provisórios enquanto a própria economia não assegurava a ocupação plena e a criação de emprego para as camadas mais pobres da população. Uma iniciativa que qualquer partido político de direita adotaria. Uma ação concreta de esquerda teria sido o investimento em cooperativas de produção e fortalecimento das atividades de promoção do desenvolvimento microrregional. O PT foi apenas assistencialista, não plantou nenhum alicerce sustentável.

É certo que o PT foi obrigado a jurar fidelidade ao sistema capitalista, para receber a chave do cofre governamental. E o primeiro ministro Meireles foi o cavalo de troia que garantiu a execução o modelo dual. Os mecanismos econômicos se mantiveram atrelados ao sistema financeiro internacional, incluindo aí a política de câmbio favorável à importação (dólar baixo) e juros altos para premiar o mundo financeiro, a ponto de Delfin Neto reconhecer que o Brasil “estava salvando o capitalismo internacional” num momento crítico em que nenhum país estava gratificando o capital. Só o Brasil fazia a festa do capital, e Lula era recebido com pompas pelo grande circuito financeiro. Nunca os próprios bancos nacionais ganharam tanto, ou pelo menos continuaram ganhando o mesmo do governo tucano.
O lulopetismo gostou da grande farra e esqueceu os compromissos sociais mais sérios e sustentáveis. Entro na farsa e se locupletou com as facilidades.

Como as commodities estavam faturando alto, puxadas pela disparada chinesa, criou-se uma ilusão de que o país finalmente podia ser o paraíso na terra, o distributivo virtuoso em que todos ganham, nada de soma zero.  Os sindicatos se venderam à atrativa autonomia absoluta, em que recebiam subsídios e não precisavam prestar contas. A classe média viveu a fantasia do dólar baixo que lhe permitia trocar Miami por Nova York e Paris, depois o mundo todo a seu alcance. A burocracia estatal teve grandes aumentos de salários sem nenhuma contrapartida de produtividade, para festa da CUT. A burguesia paulista ganhou o BNDES de presente, inflado com dinheiro do tesouro nacional e funcionando como o verdadeiro ministério do planejamento.

Já, por outro lado, nenhuma reforma substantiva na economia, na educação e na saúde. Para quê produzir se era muito mais barato importar? E ainda com a vantagem de usar a importação como arma de combate à inflação, se algum produto encarecia, importação para cima dele. Em vez de escolas de qualidade, bolsas para estudar na escola particular. Em vez de um sistema de saúde público de qualidade, planos de saúde a granel. Se isso é governo de esquerda, macacos me mordam!

Com essa farsa interna funcionando, o PT (leia-se Lula) saiu a campo para promover a ideologia que não praticava, do socialismo nativista. Primeiro com empréstimos impagáveis e depois com a Odebrecht para construir grandes obras muito superiores às realidades internas dos países aliados. Nada contra ajudar Cuba ou Bolívia, através de instrumentos políticos e econômicos “sarados”. Mas o que parece ter sido erguido foi um esquema de financiamento viciado com a vinculação a empresa patrocinada e custos inflados para esconder propina.

Chaga-se ao processo eleitoral e o PT desesperado decide apelar para tudo ou nada, subvertendo ostensivamente as regras do jogo. Mentiras, ofensas pessoais, recursos extras de origens escusas, xingamentos, bravatas, e até mesmo a suspeita forma de contagem de votos com todo o processo nas mãos de um aliado comprometido com o esquema do partido. Posteriormente foram-se abrindo as novas realidades e aparecendo os números do financiamento, tudo se somando e mostrando uma farsa eleitoral. Não há como negar que o pleito foi irregular e injusto para os adversários e portanto o impeachment aparece como possibilidade natural. O impeachment, ao contrário das alagações de golpismo, é um instrumento justo e legítimo da sociedade, peça imprescindível do processo democrático, criado justamente para que o povo possa se defender de abusos do poder político.  Claro que o impeachment não é um instrumento automático, ele tem regras e condicionamentos que precisam ser atendidos, mas isso não corte sua legitimidade.

A alternância no poder, que não é fácil de obter e praticar, talvez seja a grande arma para mediar os problemas de um país jovem, sem grandes líderes e ainda sem instituições sólidas (estão evoluindo) capazes de monitorar e controlar o lado obscuro da grande e heterodoxa sociedade brasileira.

Os governadores do Estado do Rio fizeram uma administração temerária, andaram pagando salário com royalties e usando o dinheiro de arrecadação para coisas que nem sabemos. E quando faltou royalty deixou os servidores a ver navios. Se isso não tem punição, algo está errado no reino da Dinamarca.


Temos muitos problemas no nosso país. Mas as crises são geradas por dirigentes incompetentes, sem muita legitimidade, insensíveis às necessidades da população, cultivando teses macroeconômicas viciosas e pelas elites, que aproveitam as supostas crises para justificar práticas normalmente inaceitáveis contra os interesses da sociedade.
Quando me perguntam se tenho a saída, não sei o que responder. Qualquer suposição que eu possa fazer sofre de falta de referências partidárias e parâmetros institucionais demonstrativos. Então fico restrito a uma posição absolutamente niilista. Quem souber de uma saída tem o dever de apontar.

Nossas Opções de Políticas de Governo entre a Cruz e a Caldeirinha
Em troca de manter pífios benefícios para os mais pobres o PT queria que a classe média aceitasse a corrupção sistêmica como instrumento de governo.  A alternativa está sendo suportar um governo de capitalismo selvagem onde proliferam economistas convencionais usando argumentos falaciosos e oportunismo de crises construídas para agir como verdadeiros abutres dos benefícios sociais. Resultado: estamos ferrados de qualquer jeito.
O que chamam de crise o lulopetismo usava para justificar desgoverno e o atual governo usa para justificar a redução de direitos dos trabalhadores. Dois falsos argumentos, os males do Brasil são.
As dificuldades reais são geradas por governos incompetentes e comprometidos com os ganhos do sistema financeiro.  Claro que reformas são sempre necessárias, afinal o mundo gira, mas as explicações não convencem, são mais fidejussórias, justificações de escolhas prévias.  Ouvir coisas como “esperar passar as eleições para praticar as maldades” supostamente necessárias, ofende a nossa inteligência, é uma confissão ideológica. Dificuldades, ou crises, são decorrentes de maus governos e desvios de finalidade. Quando um ministro a serviço dos bancos é nomeado para governar a economia, os juros sobem, o dólar baixa, a classe média vai fazer turismo lá fora e qualquer falta de produto na praça se resolve com mais importações. Então o que falta é uma política que favoreça o investimento nacional, essa é a crise.
Ouvir explicações de autoridades ocasionais de governo dá dor de barriga, é aceitar ofensas a nossa inteligência. Somos diariamente bombardeados por economistas ardilosos a serviço do mal. É a ciranda capitalista se movendo leve, livre e solta.

É o que sempre digo, toda vez que se anuncia uma reforma nesse país é para cortar benefícios dos trabalhadores públicos ou privados. E que dizer dos aposentados? Os dirigentes do país são cretinos, abusam da ignorância de muitos brasileiros, que eles exploram com suas escolas falidas e sua saúde negada. Faltam líderes legítimos, com dignidade, consciência do bem comum e visão de estadista. A gente já está cansado de fazer manifesto e passeata, porque já não acreditamos nisso.

Nem a Justiça se entende. Rigorosamente, o novo ministro da justiça não tem nenhum direito adquirido por ter sido empossado no Ministério Público antes de 88. Ele só teria direito adquirido se tivesse assumido o ministério da justiça antes de 88. O resto é só o jeitinho brasileiro. Não vê o que não quer ver.
Se fosse assim, todos os aposentados que contribuíram com dez salários mínimos teriam seu direito adquirido mesmo depois de FHC ter separado os respectivos aumentos (dos aposentados e do salário mínimo) que Lula ratificou e aproveitou politicamente.

Claro que a Justiça, em suas filigranas e artifícios, pode arguir "expectativa de direito", que só vale para os casos selecionados, para os "amigos".