Instalada a crise, tudo é
permitido. O rebaixamento do país por uma agência de classificação de risco tem
muitas explicações e esconde interesses subversivos do sistema financeiro
internacional. O trabalho dessas agências é criticável e suspeito, atende a
interesses patronais. Em vez de
ajudar o país a sair da crise, pune, eleva os juros que serve para aumentar a
renda do sistema financeiro. Tudo muito redondo e cruel.
Razões oficiais para isso, se
se procura acha. A administração do país foi uma catástrofe, foi desperdiçada
uma oportunidade histórica de um governo popular, com um líder carismático que
tinha um discurso contestatório do status quo.
Entretanto, do ponto de vista
prático e ideológico o PT apenas “surfou” na estrada aberta pelo PSDB. Não
inovou em nada e não produziu nenhuma transformação estrutural.
Vejamos: a incorporação de
milhões da pobreza ao mercado é uma estratégia capitalista, fartamente
comemorada pela burguesia nacional. Essa virada foi preparada pelo PSDB quando desconectou
o salário mínimo da pensão do aposentado, possibilitando aumentar o primeiro
sem carregar junto o segundo. O PSDB abriu a porta e não teve tempo de
usufruir, mas faria o que o PT fez, aumentar os ganhos do salário mínimo,
festejado pelo comércio e bancos. A liberação do crédito foi apenas a extensão
do instrumento principal.
A exploração eleitoreira do
bolsa-família foi uma distorção de outra iniciativa do PSDB, as bolsas
assistenciais, (sobretudo o
bolsa-escola) criadas como instrumentos provisórios enquanto a própria economia
não assegurava a ocupação plena e a criação de emprego para as camadas mais
pobres da população. Uma iniciativa que qualquer partido político de direita
adotaria. Uma ação concreta de esquerda teria sido o investimento em
cooperativas de produção e fortalecimento das atividades de promoção do
desenvolvimento microrregional. O PT foi apenas assistencialista, não plantou
nenhum alicerce sustentável.
É certo que o PT foi obrigado
a jurar fidelidade ao sistema capitalista, para receber a chave do cofre governamental.
E o primeiro ministro Meireles foi o cavalo
de troia que garantiu a execução o modelo dual. Os mecanismos econômicos se
mantiveram atrelados ao sistema financeiro internacional, incluindo aí a
política de câmbio favorável à importação (dólar baixo) e juros altos para
premiar o mundo financeiro, a ponto de Delfin Neto reconhecer que o Brasil
“estava salvando o capitalismo internacional” num momento crítico em que nenhum
país estava gratificando o capital. Só o Brasil fazia a festa do capital, e Lula
era recebido com pompas pelo grande circuito financeiro. Nunca os próprios
bancos nacionais ganharam tanto, ou pelo menos continuaram ganhando o mesmo do
governo tucano.
O lulopetismo gostou da grande farra e esqueceu os compromissos
sociais mais sérios e sustentáveis. Entro na farsa e se locupletou com as
facilidades.
Como as commodities estavam faturando alto, puxadas pela disparada chinesa,
criou-se uma ilusão de que o país finalmente podia ser o paraíso na terra, o
distributivo virtuoso em que todos ganham, nada de soma zero. Os sindicatos se venderam à atrativa
autonomia absoluta, em que recebiam subsídios e não precisavam prestar contas.
A classe média viveu a fantasia do dólar baixo que lhe permitia trocar Miami
por Nova York e Paris, depois o mundo todo a seu alcance. A burocracia estatal
teve grandes aumentos de salários sem nenhuma contrapartida de produtividade,
para festa da CUT. A burguesia paulista ganhou o BNDES de presente, inflado com
dinheiro do tesouro nacional e funcionando como o verdadeiro ministério do
planejamento.
Já, por outro lado, nenhuma
reforma substantiva na economia, na educação e na saúde. Para quê produzir se
era muito mais barato importar? E ainda com a vantagem de usar a importação
como arma de combate à inflação, se algum produto encarecia, importação para
cima dele. Em vez de escolas de qualidade, bolsas para estudar na escola
particular. Em vez de um sistema de saúde público de qualidade, planos de saúde
a granel. Se isso é governo de esquerda, macacos me mordam!
Com essa farsa interna
funcionando, o PT (leia-se Lula) saiu a campo para promover a ideologia que não
praticava, do socialismo nativista. Primeiro com empréstimos impagáveis e
depois com a Odebrecht para construir grandes obras muito superiores às realidades
internas dos países aliados. Nada contra ajudar Cuba ou Bolívia, através de
instrumentos políticos e econômicos “sarados”. Mas o que parece ter sido
erguido foi um esquema de financiamento viciado com a vinculação a empresa
patrocinada e custos inflados para esconder propina.
Chaga-se ao processo
eleitoral e o PT desesperado decide apelar para tudo ou nada, subvertendo
ostensivamente as regras do jogo. Mentiras, ofensas pessoais, recursos extras
de origens escusas, xingamentos, bravatas, e até mesmo a suspeita forma de
contagem de votos com todo o processo nas mãos de um aliado comprometido com o
esquema do partido. Posteriormente foram-se abrindo as novas realidades e
aparecendo os números do financiamento, tudo se somando e mostrando uma farsa
eleitoral. Não há como negar que o pleito foi irregular e injusto para os
adversários e portanto o impeachment aparece como possibilidade natural. O
impeachment, ao contrário das alagações de golpismo, é um instrumento justo e
legítimo da sociedade, peça imprescindível do processo democrático, criado
justamente para que o povo possa se defender de abusos do poder político. Claro que o impeachment não é um instrumento
automático, ele tem regras e condicionamentos que precisam ser atendidos, mas
isso não corte sua legitimidade.
A alternância no poder, que não é fácil de obter e praticar, talvez
seja a grande arma para mediar os problemas de um país jovem, sem grandes
líderes e ainda sem instituições sólidas (estão evoluindo) capazes de monitorar
e controlar o lado obscuro da grande e heterodoxa sociedade brasileira.
Os governadores do Estado do Rio
fizeram uma administração temerária, andaram pagando salário com royalties e
usando o dinheiro de arrecadação para coisas que nem sabemos. E quando faltou
royalty deixou os servidores a ver navios. Se isso não tem punição, algo está
errado no reino da Dinamarca.
Temos muitos
problemas no nosso país. Mas as crises são geradas por dirigentes
incompetentes, sem muita legitimidade, insensíveis às necessidades da
população, cultivando teses macroeconômicas viciosas e pelas elites, que
aproveitam as supostas crises para justificar práticas normalmente inaceitáveis
contra os interesses da sociedade.
Quando me perguntam se tenho a saída, não sei o que responder. Qualquer suposição que eu possa fazer sofre de falta de referências partidárias e parâmetros institucionais demonstrativos. Então fico restrito a uma posição absolutamente niilista. Quem souber de uma saída tem o dever de apontar.
Quando me perguntam se tenho a saída, não sei o que responder. Qualquer suposição que eu possa fazer sofre de falta de referências partidárias e parâmetros institucionais demonstrativos. Então fico restrito a uma posição absolutamente niilista. Quem souber de uma saída tem o dever de apontar.
Nossas Opções de Políticas de Governo
entre a Cruz e a Caldeirinha
Em troca de manter pífios benefícios
para os mais pobres o PT queria que a classe média aceitasse a corrupção
sistêmica como instrumento de governo. A alternativa está sendo
suportar um governo de capitalismo selvagem onde proliferam economistas
convencionais usando argumentos falaciosos e oportunismo de crises construídas
para agir como verdadeiros abutres dos benefícios sociais. Resultado: estamos ferrados
de qualquer jeito.
O que chamam de crise o lulopetismo usava
para justificar desgoverno e o atual governo usa para justificar a redução de
direitos dos trabalhadores. Dois falsos argumentos, os males do Brasil são.
As dificuldades reais são geradas por
governos incompetentes e comprometidos com os ganhos do sistema
financeiro. Claro que reformas são sempre necessárias, afinal o
mundo gira, mas as explicações não convencem, são mais fidejussórias,
justificações de escolhas prévias. Ouvir coisas como “esperar passar
as eleições para praticar as maldades” supostamente necessárias, ofende a
nossa inteligência, é uma confissão ideológica. Dificuldades, ou crises, são
decorrentes de maus governos e desvios de finalidade. Quando um ministro a
serviço dos bancos é nomeado para governar a economia, os juros sobem, o dólar
baixa, a classe média vai fazer turismo lá fora e qualquer falta de produto na
praça se resolve com mais importações. Então o que falta é uma política que
favoreça o investimento nacional, essa é a crise.
Ouvir explicações de autoridades
ocasionais de governo dá dor de barriga, é aceitar ofensas a nossa
inteligência. Somos diariamente bombardeados por economistas ardilosos a
serviço do mal. É a ciranda capitalista se movendo leve, livre e solta.
É o que sempre digo,
toda vez que se anuncia uma reforma nesse país é para cortar benefícios dos
trabalhadores públicos ou privados. E que dizer dos aposentados? Os dirigentes
do país são cretinos, abusam da ignorância de muitos brasileiros, que eles
exploram com suas escolas falidas e sua saúde negada. Faltam líderes legítimos,
com dignidade, consciência do bem comum e visão de estadista. A gente já está
cansado de fazer manifesto e passeata, porque já não acreditamos nisso.
Nem a Justiça se
entende. Rigorosamente, o novo ministro da justiça não tem nenhum direito
adquirido por ter sido empossado no Ministério Público antes de 88. Ele só
teria direito adquirido se tivesse assumido o ministério da justiça antes de
88. O resto é só o jeitinho brasileiro. Não vê o que não quer ver.
Se fosse assim,
todos os aposentados que contribuíram com dez salários mínimos teriam seu
direito adquirido mesmo depois de FHC ter separado os respectivos aumentos (dos
aposentados e do salário mínimo) que Lula ratificou e aproveitou politicamente.
Claro que a Justiça,
em suas filigranas e artifícios, pode arguir "expectativa de
direito", que só vale para os casos selecionados, para os
"amigos".